03 novembro 2009

Livro sagrado gratis


livro sagrado e de graça


Um dos mais renomados pensadores do desenvolvimento sustentável e arquiteto pioneiro da ecoeconomia, o norte-americano Lester Brown esteve em São Paulo para lançar seu novo livro, Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização (pelas editoras New Content e Ideia Sustentável, com patrocínio do Bradesco). Na palestra que antecedeu a tarde de autógrafos, no Museu de Arte de São Paulo, o especialista em agricultura, ciências, administração pública e economia exibiu a serenidade que lhe é peculiar mesmo ao admitir que nos restam poucas saídas: “Todos os problemas que enfrentamos podem ser resolvidos com o uso de tecnologias existentes. E quase tudo o que precisamos fazer para mover a economia mundial de volta para um caminho sustentável já foi feito em um ou mais países”, repetiu o professor, como vem fazendo desde o lançamento do Plano B, série que teve início em 2003, com a versão 3.0.

Mas esse doutor honoris causa por 24 universidades, que há 35 anos se dedica à pesquisa detalhada sobre o que acontece no mundo, avisa que não há mais tempo para divagações. Sem alarmismos, e doando um mapa seguro rumo à ecoeconomia, o guru da sustentabilidade nos encoraja, com as experiências listadas em seu livro, a assumir esse “esforço de guerra” por meio de atitudes individuais e coletivas, públicas e privadas.

Estudioso da evolução das cidades, dos estragos da poluição que despejamos na natureza, da irracionalidade representada pelo excesso de veículos, dos níveis de exaustão do solo e dos aquíferos, da desertificação e das enchentes, Lester Brown avisa que o Plano B não é “uma” alternativa, mas a “única”, se quisermos reverter as tendências que estão destruindo nosso futuro.

Na lista de experiências bem-sucedidas estão desde o uso mais eficiente do solo e da água, garantindo a segurança alimentar, até métodos vitoriosos de controle da natalidade em países tradicionalistas, como o Irã. Do planejamento de cidades focadas no pedestre a um modelo de impostos mais justos - que sobretaxa os produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e alivia a renda do trabalhador -, Brown fornece, em detalhes, os subsídios para a mudança.

“Propomos a estabilização do clima e da população, a erradicação da pobreza e a restauração dos suportes naturais da natureza”, explica o estudioso, que é presidente do Earth Policy Institute desde 2001, quando deixou o Worldwatch Institute (WWI), que fundara em 1974. Primeiro instituto dedicado à analise de assuntos ambientais, o WWI produziu relatórios anuais minuciosos e analíticos - chamados Estado do Mundo - , sempre muito elogiados por seu rigor científico.

O Plano B 4.0 também mostra a fatura que o mundo terá de pagar pela mudança. Comparados aos US$ 3 trilhões por ano destinados a orçamentos militares e custos diretos e indiretos da máquina de guerra, os US$ 187 bilhões da conta de Brown nem são grande coisa. Neles estão incluídos os custos com as “metas sociais básicas”: US$ 77 bilhões anuais para cobrir desde merenda escolar para os 44 países mais pobres até educação básica. Os outros US$ 110 bilhões seriam para as “metas de restauração ambiental”: estabilizar recursos hídricos e plantar árvores para seqüestrar carbono, conter enchentes e conservar o solo.

Essa mudança requer, principalmente, o envolvimento do setor empresarial, atento para as oportunidades embutidas no novo processo. Conheça algumas dessas oportunidades, apenas no setor energético:

* O Texas possui 7.900 megawatts de capacidade de geração eólica já em funcionamento, mais 1.100 em estágio de construção, e um grande potencial para desenvolvimento. Em 2007, o Estado norte-americano tinha 4,46 megawatts de capacidade instalada - um crescimento de 60% em relação a 2006. Quando todas as suas fazendas eólicas estiverem completas, o Texas terá 53 mil megawatts de energia eólica - o equivalente a 53 usinas termoelétricas a carvão. Além de satisfazer as necessidades residenciais de seus 24 milhões de habitantes, essa capacidade de geração habilita o Estado, que já é, de longa data, exportador de petróleo, a também exportar eletricidade.

* Na Europa, as novas fontes de geração de eletricidade eólica, solar e de outros recursos renováveis já superam, com boa margem, aquelas de combustível fóssil. Nos EUA, o incremento de 8.400 megawatts na geração eólica em 2008 pulverizou os 1.400 megawatts das novas usinas a carvão. A energia nuclear, por sua vez, também está diminuindo. Em termos globais, a produção de reatores nucleares caiu em 2008, ao mesmo tempo em que a capacidade de geração eólica aumentou cerca de 27 mil megawatts, quantidade suficiente para suprir 8 milhões de lares americanos. O mundo muda em ritmo veloz.

* A produção de lâmpadas fluorescentes na China, que engloba 85% do total mundial, subiu de 750 milhões de unidades, em 2001, para 2,4 bilhões de unidades, em 2006. As vendas nos EUA, por sua vez, cresceram de 21 milhões, em 2000, para 397 milhões, em 2007. Dos estimados 4,7 bilhões de soquetes de lâmpada nos EUA, cerca de 1 bilhão agora recebem lâmpadas compactas fluorescentes.

* A cidade de Nova York substituiu as lâmpadas tradicionais por díodos em muitos sinais de trânsito, baixando em US$ 6 milhões sua conta anual com manutenção e eletricidade. No início de 2009, o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa, informou que a cidade substituiria 140 mil lâmpadas de rua por díodos, economizando US$ 48 milhões dos cidadãos pelos próximos sete anos. A redução resultante de emissões de carbono equivaleria a retirar 7.000 carros das estradas.

* Desde janeiro de 2009, a Alemanha exige que todos os prédios novos ou tenham pelo menos 15% de aquecimento do ambiente e de água a partir de energias renováveis ou melhorem expressivamente sua eficiência energética. Para tanto, o governo oferece apoio financeiro aos proprietários de casas novas ou já existentes visando a instalação de novos sistemas ou a realização de melhorias.

* Na metade de 2008, a Indonésia - país com 128 vulcões ativos e, portanto, rico em energia geotérmica - anunciou que desenvolveria 6.900 megawatts de capacidade geradora geotérmica, cabendo à Pertamina, sua estatal petrolífera, cuidar da melhor parte. A produção de petróleo local vem caindo na última década de tal modo que, nos últimos quatro anos, o país precisou importar o insumo. Como a Pertamina já transfere os recursos do petróleo para o desenvolvimento de energia geotérmica, poderá se tornar a primeira companhia do setor - estatal ou independente - a fazer a transição para a energia renovável.

* A geração mundial de eletricidade eólica cresce em ritmo frenético. De 2000 a 2008, a capacidade aumentou de 18 mil megawatts para estimados 120 mil megawatts. Os EUA lideram agora a corrida, seguidos por Alemanha (até recentemente a líder), Espanha, China e Índia. Mas como a produção de energia eólica na China dobra todo ano, o primeiro lugar norte-americano terá curta duração.

* A Dinamarca é líder mundial no uso de energia eólica, com 21% de eletricidade nacional suprida pelo vento. Quatro Estados do norte da Alemanha agora geram um terço ou mais da sua energia a partir do vento. Para a Alemanha, o número é de 8% - e continua subindo.

* A China tem 12 mil megawatts de capacidade de geração de vento, a maior parte na categoria de fazendas eólicas de 50 a 100 megawatts, sendo que há muitas outras de tamanho médio a caminho. Quando estiverem terminadas, essas fazendas terão uma capacidade geradora de 105 gigawatts - o volume de energia eólica que o mundo inteiro possuía no início de 2008.

A edição brasileira de Plano B 4.0 está sendo lançada quase que simultaneamente à americana. O conteúdo será disponível para download gratuito no site http://www.bradesco.com.br/rsa. Haverá, ainda, uma tiragem impressa a ser distribuída para bibliotecas, escolas, universidades, ONGs e centros de estudo.

Nenhum comentário: